
Texto: Xavier Bartaburu
À direita, milho, macaxeira, fava e feijão. À esquerda, cebola, pepino, pimenta-de-cheiro e cuxá – e as folhas de inhame rastejando ao pé da cerca. No centro, rente a uma fila de mamoeiros, crescem na sombra o coentro, a couve e a cebolinha. As frutas atrás: tem pé de goiaba, coco, acerola, banana e limão. E no fundo o maxixe e o quiabo, bem onde acaba a propriedade de Leude e Biu e começam os pastos e morros do Vale do Mearim.
Um ano e meio atrás, não tinha nada. Quer dizer, tinha: uma galinha. E alguns ovos. Que Leude vendeu por exatos 30 reais para comprar um pacote de sementes de coentro. Leude era da roça; Biu, não. Biu era pedreiro, sempre foi: ganhava diária para fazer tudo quanto era serviço pesado em Lagoa Grande do Maranhão. Até que se encheu. Da cidade e do sufoco. Faz dois anos, Leudiane Loiola da Silva e Francisco Edimilson de Lima Costa (ou Biu) se mudaram com os dois filhos para o Centro dos Fortunatos, distante 3 quilômetros de estrada de chão do centro da cidade.
– Vou aprender a fazer lavoura e seja o que Deus quiser – decidiu Biu. Acharam para comprar um terreninho no fundo do povoado – 150 metros de comprido por 50 metros de largura –, onde tudo era mato e lixo. Passaram meses limpando, dia e noite, e ainda arranjaram tempo para ir catar castanha de caju nos campos e vender na cidade, para ter o de comer. Foi quase meio ano assim, até que veio o coentro – o da galinha –, que cresceu bonito no quintal atrás da casa e em pouco tempo já tinha comprador. Biu e Leude já não precisavam mais pegar castanha no mato.
– Era eu, a coragem, a vontade de Deus e aquela mulherzinha ali – diz Biu, apontando para Leude, sentada debaixo de uma bananeira. Daí em diante, só melhorou. No começo de 2017, Leude e Biu entraram no mapa do programa estadual de agricultura familiar – que mata a fome e gera renda. Com o incentivo financeiro, deu para comprar o sombrite para os coentros, a mangueira para a água e ainda algumas galinhas. Teve também trator com roçadeira, doado pelo governo ao município e emprestado aos lavradores sempre que necessário, e ainda um kit de irrigação, que Biu ganhou na mesma época em que os maços de coentro começavam a se multiplicar em seu quintal.
De maço em maço, o coentro foi dando lucro. Era Biu na enxada e Leude na moto: todo dia, quando ia levar os filhos na escola, ela aproveitava a viagem e deixava o coentro nas vendas de Lagoa Grande – maços e crianças na garupa. Com esse dinheiro, já deu para comprar sementes outras: de pimenta, mamão, maxixe, macaxeira. E tudo também cresceu bonito e foi parar nas mesas de escolas, creches e hospitais. Resultado: hoje Biu e Leude chegam a tirar até 3 mil reais por mês.

– Vim pra cá pra sustentar a família e hoje tenho emprego todo dia – resume Biu. E não é que até a alimentação da família melhorou? Numa região onde a refeição é quase sempre arroz, feijão, farofa e carne, os dois botam na mesa das crianças tudo quanto é fruta e verdura. Frescas, direto do quintal.
– Meu menino não comia couve – diz Leude. – Hoje ele só come a salada se tiver couve. E o que é melhor: sem agrotóxico. Nada que venha da horta de Leude e Biu tem veneno algum. Falta alguma coisa? Sim, a casa. Uma casa nova, bonita. Mas logo nem essa vai faltar mais: com o dinheiro da horta, Biu já levantou as paredes daquela que será a mais nova moradia do Centro dos Fortunatos. É casa de tijolo, projetada a quatro mãos com Leude, feita para substituir o casebre de taipa onde vivem desde que compraram o terreno.
– Quero botar alpendre nela todinha em volta – já vai sonhando Biu.
– E a cor da casa, já sabe qual vai ser?
– Ainda não. Aí é com ela – e Biu mais uma vez aponta para Leude, agora com o canto do olho. Leude ri, mas não responde.
Lagoa Grande do Maranhão
Ações do Mais IDH: Escola Digna; Sim, Eu Posso!; Bolsa Escola; Arca das Letras; Força Estadual de Saúde; Mais Sementes; Sistecs; Regularização Fundiária; Programa de Aquisição de Alimentos; Programa Nacional de Alimentação Escolar; Água para Todos; Mais Saneamento; Quintais Produtivos; Mais Feiras; Kits de Irrigação; Mais Asfalto; Minha Casa, Meu Maranhão; Cozinha Comunitária.
IDHM: 0,502
Ano de fundação: 1997
População: 10.517 habitantes
População rural: 45,5% do total
Renda per capita: R$ 158,30
População abaixo da linha de pobreza: 60,75%
Taxa de analfabetismo (acima de 25 anos): 45,5%
Mortalidade infantil: 33,1 entre mil nascidos vivos
